A nossa vida na Cidade dos Leões têm sido marcada por dizer "Adeus".
Adeus às nossas famílias de cada vez que voltamos para cá ou que são eles a partir, de adeus aqueles com quem partilhamos a nossa vida e que tem saído da cidade pouco a pouco.
A vida é mesmo assim me dirão vocês (e é absolutamente verdade) mas admito que enquanto sorriu e felicito sinceramente a pessoa pelo novo capitulo que vai começar a escrever, estou a controlar o meu coraçãozinho que se serra um bocadinho mais de cada vez que um até breve se anuncia.
Um adeus é sempre um adeus e, enquanto somos mais jovens (ou não temos filhos "às costas") acabamos por estar disponíveis para mais um jantar, mais um café ou mais uma saída à noite o que, a defeito de termos amigos daqueles à séria, nos dá a impressão de não estarmos sozinhos.
Infelizmente o ritmo de vida, as responsabilidades, as distâncias físicas e um certo individualismo disfarçado de um "eu chego-me bem a mim mesmo" protetor (mas realmente falso) fazem com que, quanto mais sentimos necessidade de uma rede de apoio mais nos sentimos sozinhos e isolados. Dizem que é preciso uma aldeia para educar uma criança mas olhamos à volta, vemos muita gente mas mais sozinhos do que nunca.
Por estes dias uma colega de trabalho ligou-me. Se quando cheguei ao hospital a achava insuportável, ao longo dos anos, da sorte (há mais de 6 anos que é o meu "binómio" nos fins de semana) e da minha detestável mania de dar segundas oportunidades tornou-se uma presença constante e assídua na minha vida.
Pelo nascimento do meu filho foi não só de uma ajuda enorme a nível material (todos os recém papás sabem o jeito que dá quando alguém nos cede o material de puericultura que já não precisa) mas também com conselhos e escuta (o que se diga de passagem é raro, a maior parte de nós limita-se a fazer um sinal afirmativo com a cabeça e a fingir que ouve ou então a fazer um comentário qualquer para rematar rapidamente o assunto).
Numa altura em que, sem experiência nenhuma nisto da maternidade e a sentir-me uma verdadeira idiota no assunto, mas com um orgulho tão desmesurado que me fazia ter vergonha em confessar os meus medos e fingir que tudo está bem o tempo todo, foi a primeira pessoa com quem me senti à vontade para falar. Dois filhos com menos de 16 meses de diferença e um adolescente fruto do primeiro casamento do marido davam-lhe alguma credibilidade aos meus olhos
E foi das raras pessoas que me soube realmente fazer perceber que tinha armas suficientes para lidar com as coisas mas que o primeiro passo era aceitar a minha vulnerabilidade e imperfeição mostrando-me que os problemas podem ser mais pequenos do que parecem e que as fraquezas podem tornar-se forças ao longo do tempo.
Neste telefonema que me fez acabou por me anunciar a sua partida iminente. De há alguns anos para cá estavam cada vez mais envolvidos em projetos de voluntariado na paróquia que frequentam mas desta vez concretizarão o sonho de uma vida: partir em missão humanitária em família, uma experiência e tanto para o casal e os dois filhos.
Não posso deixar de lhes tirar o chapéu e de usar uma expressão grosseira mas tão verdadeira "é preciso tê-los no sítio"! Sobretudo tendo eu própria explorado essa possibilidade há alguns anos atrás sem, no entanto, estar suficientemente motivada para passar da fase de procura de informação, tanto a coisa me parecia exigente!
Acredito sinceramente que cada um de nós tem uma missão nesta vida e que eles vão seguramente viver uma das deles. Sinto honra e orgulho no quanto acreditam neste projeto e sobretudo no quanto se estão a preparar emocionalmente para este embate que segundo as suas próprias palavras "trarão momentos muito duros para nós e para os miúdos".
E é esta coragem de aceitar a vulnerabilidade que me vai fazer falta, assim como a força, a confiança, a energia e a positividade de tantos daqueles que vimos sair do pé de nós ao longo destes anos.
E a questão que se impõe: será que algum dia será a nossa vez de partir ou a nossa missão de vida é mesmo por aqui? Acredito que estamos sempre onde devemos estar por isso vamos esperar para ver...
Uma das minhas grandes preocupações em relação à educação do meu filho passa também pelo bilinguismo. Vivendo em França mas com toda a família e as raízes em Portugal parece-nos fundamental ajuda-lo a aprender as duas línguas ao mesmo tempo.
E se parece coisa fácil, já que "basta os pais falarem para eles aprenderem", a verdade é que este bilinguismo, sobretudo quando desejamos um bom nível em ambas as línguas, tem a sua dose de "desafio".
Hoje gostaria de vos relatar alguns desafios aos quais nos temos confrontado agora que ele já começa a falar. Considero que para nós que falamos todos a mesma língua é mais fácil do que se apenas um dos pais ensina a língua minoritária.
Uma das maiores dificuldades que sentimos nele é a de perceber onde e com quem deve falar português ou francês. Se não demonstra ficar frustrado com o facto de as pessoas não o perceberem quando fala a língua "errada" acreditamos que seja nosso trabalho explicar-lhe com quem e onde deve falar o quê.
Outro desafio, mas este é sobretudo para nós pais, é o de sermos ainda mais vigilantes com a nossa própria linguagem. Porque, como toda a gente, fazemos atenção à linguagem demasiado familiar mas também somos obrigados a evitar os "francesismos" que por facilidade utilizávamos antes de ele nascer!
Um outro ponto que tem de ser aceite por todos nós é o "sotaque" dele. Se é comum entre os miúdos bilingues terem algum sotaque ao inicio é verdade que, enquanto adultos, temos tendência a corrigir tudo até à exaustão. E isso é bastante desencorajador para a criança. No nosso caso temos uns brilhantes "R" e "el" à francesa e sinceramente, por enquanto, achamos que é bastante charmoso.
Um bocado no seguimento do ponto anterior, temos tentado trabalhar a nossa indulgência e a nossa perseverança em todos os momentos. Não o frustrar demasiado com correções e criticas, nem cair na facilidade de falar a língua que para ele é mais cómoda.
Mas afinal o que temos colocado em prática ao longo dos últimos seis meses para o ajudar nesta aprendizagem dupla?
Falar português em casa sempre que possível é indiscutivelmente importante, mas permitir-lhe socializar com outras pessoas é igualmente fundamental. Estimulamos ao máximo os tempos de conversa com os avós, mesmo que seja via videochamada. Quanto ao francês, a creche é o ponto principal de aprendizagem mas também o incitamos a jogar com outras crianças no parque e a comunicar com outros adultos, sejam pais de outras crianças na creche, amigos nossos ou mesmo caixas do supermercado.
Cantigas, histórias e desenhos animados em ambas as línguas são também ferramentas que tentamos colocar ao nosso dispor e que adaptamos em função das necessidades que ele apresenta. Claro que, em qualquer uma delas somos exigentes nas escolhas, sobretudo a nível de nível de linguagem.
Já falei lá atrás mas, para mim, a perseverança e o reforço positivo são peça chave para ele apreciar ambas as línguas e sermos confrontados o mais tarde possível com o facto de ele não querer falar uma delas, que é algo comum em miúdos bilingues.
Ao longo do tempo temos também tentado envolver as outras pessoas que fazem parte da vida dele neste processo. Na creche a "atitude conciliadora" foi mesmo muito importante sobretudo numa fase em que ele falava mais português do que francês. Com uma atitude compreensiva em relação às informações e inquietações do pessoal da creche mas defendendo a importância que a equipa pode ter em todo este processo conseguimos encontrar um equilíbrio e um ambiente favorável à aprendizagem das duas línguas. Trabalho semelhante foi também necessário com as nossas famílias e amigos.
Este testemunho é apenas o resumo dos nossos primeiros passos neste caminho de educar um miúdo bilingue, quem sabe quantos outros se seguirão...
Enquanto Janeiro é mês da Galette des Rois em França e todas as ocasiões são boas para comer uma. Fevereiro trás com ele os crepes.
A "Chandeleur", que se comemora a dois de Fevereiro, é festejada durante todo o mês.
E porque o que é bom é mesmo para ser aproveitado proponho-vos que também aí em casa façam uma "Noite de Crepes".
Esta refeição dá pouco trabalho, agrada a toda a gente e é extremamente convivial. Têm ainda a vantagem de ser entrada, prato principal e sobremesa dependendo do recheio e é adaptada a miúdos e graúdos.
Se a refeição for seguida de jogos de sociedade, de um filme em família ou de uma longa conversa sobre tudo e nada podemos ter aqui um belo programa para um fim de semana deste curto mês de Fevereiro, seja entre amigos ou em família.
Claro que a utilização de uma "crepeira" ou uma "crepe party" facilita o processo mas a velha frigideira continua a tornar possivel a refeição.
Os últimos estaram um pouco menos quentes, o que não é muito grave.
As minhas sugestões para recheio de crepes salgados são: fiambre, queijos de barrar ou de barra, cogumelos salteados na frigideira, salada, pedaços de bacon e por aí fora.
Para a parte doce, mais democratizada, sugiro o creme de chocolate de barrar, doces ao gosto de cada um, gelado, caramelo, açúcar e canela ou, os meus preferidos de sempre, açúcar e sumo de limão!
Uma primeira semana a 3 no Algarve. Nunca tinha acontecido... E mesmo com um pequenino que não pára sossegado, de termos a impressão de termos estado de férias "em guarda alternada" e de nos deitarmos "com as galinhas" foram momentos muito bem passados e sobretudo uma excelente ocasião para criar novas memórias em família.
Segunda Semana no "meu" Ribatejo. Aquela sensação de ser "o filho pródigo", a volta a casa, depois de um ano ausente Os cheiros conhecidos. A vista sempre marcante das Portas do Sol!
Terceira semana em Trás-os-Montes. Aproveitar o miúdo e conhecer os sítios que fazem a história do pai dele. Entrar um bocadinho mais nas suas memórias e nos seus segredos de infância e adolescência,
Três semanas que foram muito boas e em que aproveitamos o tempo que tivemos uns com os outros e com os nossos. Três semanas que não passaram a correr porque fizemos o tudo por tudo para ir devagar. Para não correr. Sem uma lista enorme de pessoas e lugares a visitar mas desfrutar ao máximo daquilo que estava ao nosso alcance.
Porque só me apetece continuar neste modo desacelerar mesmo agora que a rotina se voltou a instalar.
Um grande beijinho e até ao próximo post! E boas férias se for caso disso
Adoro a expressão "morder a língua" já que dá uma ideia muito visual daquilo que fazemos tantas e tantas vezes: engolir os nossos "eu nunca" de uma forma absolutamente espantosa...
O que vos proponho hoje é uma viagem pelos principais "eu nunca" que fui dizendo ao longo dos anos e a realidade atual... em que mordi a língua forte e feio. Porque é sempre saudável rir das certezas que acabamos por deixar cair a terra... e aprendemos imenso com isso.
Preparados?
- "Emigrar não é para mim" - Acabei a licenciatura na altura em que os primeiros membros da mais tarde batizada "geração à rasca" saíram do pais. Apesar de o assunto ser atual na altura nunca tal coisa me passou pela cabeça, afinal nunca "abandonaria a luta".
Não muito tempo depois, e por razões óbvias, comecei a ver alguns colegas a pegarem nas malas e a partirem eles também. Nessa altura as minhas convicções eram menos rígidas mas continuei a dizer alto e bom som que "emigrar não é para mim".
Mais ou menos um ano depois de visitar uma amiga em Paris e de reforçar a minha ideia inicial de que não era feita para aquela vida tive eu própria vontade de abraçar a aventura... que quase oito anos depois ainda dura!
- "Se me juntar não me caso" - Esta é quase uma piada privada cá em casa...
A verdade é que tendo crescido num meio rural a ideia de ver alguém um casal viver junto antes do casamento era incompatível com a ideia de casar depois. Não que o visse como um pecado ou algo do género mas não via interesse em festejar algo que já acontecia e fazia-me sentido "sair de casa dos pais para a casa de casado".
Claro que, anos mais tarde, "mordi a língua" forte e feio já que o pedido de casamento chegou três meses depois de virmos morar juntos... e o sonho do vestido, do anel de noivado e a importância que passei a dar à oficialização da coisa me fizeram esquecer as minhas antigas certezas.
- "Filho meu dormir na minha cama? Nunca..."- Há uma expressão francesa que diz "avant j'avais des principes maintenant j'ai des enfants" (antes tinha princípios agora tenho filhos) e admito que ela me assenta que nem uma luva. E trazer o meu filho para a minha cama era daquelas certezas absolutas que existiam dentro da minha cabeça.
Até ao dia em que, depois de uma noite complicada, a única forma de descansarmos os três fosse trazê-lo para terreno proibido.
Sim, não se deve fazer e blablabla mas às vezes uma pessoa faz como pode e, sinceramente, há regras que sabem bem se forem infringidas uma vez por outra. Mas, de qualquer das formas, a maternidade é rica em "morder a língua".
Claro que ainda tenho muitos mais "eu nunca" que acabei por mudar ao longo dos anos mas são estes os mais flagrantes e também os que mais me fazem rir ai imaginar a minha cara de há uns anos atrás a ver o meu eu de hoje.
E por aí, quais os principais "mordi a língua" da vossa vida? Não deixem de partilhar connosco... riremos de certeza um bom bocado!
Aproveitamos que estávamos os dois em casa para ir tratar do cartão do cidadão do herdeiro ao consulado. Sendo que não vamos a Portugal há praticamente um ano não queremos colocar em causa a possibilidade de ir pelo Natal e decidimos ir tratar do assunto, especialmente porque o cartão do cidadão deve ser feito nos primeiros vinte dias de vida de uma criança.
Infelizmente o herdeiro anda numa fase em que acha que o mundo é muito divertido e que dormir é uma autêntica perda de tempo pelo que as sestas, tão necessárias nesta ideia, são esquecidas e depois temos de lidar com do "tenho sono mas não quero dormir".
Durante o tempo de espera (muito atrasado, mesmo com hora marcada) e com os estímulos que vinham de todos os lados, a certa altura o pequeno desatou num pranto e ficou impossível de consolar muito por causa do sono acumulado.
Enquanto a funcionária que nos atendeu foi um poço de amabilidade e com uma paciência infinita, compreendendo que aquilo não estava a ser fácil de gerir, fez o melhor que pode para simplificar as coisas, a colega do guichet do lado, depois de soprar umas quantas vezes e praguejar mais algumas, perguntou-me descaradamente se não tinha ao menos água para dar ao miúdo.
Foi a primeira vez que alguém me fez claramente um julgamento pela forma como lido com o meu filho e fiquei nem sei bem como (entretanto, e sem me conseguir conter, respondi-lhe sem medir a educação das minhas palavras).
Se se ficasse só pelos suspiros ainda passava mas interpelar a mãe, neste caso eu, sobre o que deve ou não fazer é um limite que nunca acreditei que alguém conseguisse passar, especialmente quando o atraso foi deles e eu estava a fazer todos os possíveis para o acalmar e despachar as coisas o mais depressa possível...
Considero que existem duas razões para as pessoas fazerem julgamentos de valor sobre este assunto, sendo que uma delas é a falta de conhecimento e a outra puro azedume.
Para o segundo não há solução e para o primeiro o meu filho, em menos de três meses, já me ensinou o antídoto: muita paciência e meter todas as opiniões sobre a educação dos outros num sítio que nós cá sabemos...
Se estivessemos todos mais dispostos a colaborar e menos a julgar os outros, seja porque razão for, o Mundo seria um local bem mais agradável e encontraríamos bem mais soluções para os seus problemas. Porque a única coisa que aquela senhora conseguiu foi enervar-me mais ainda a mim e em consequência irritar ainda mais o meu filho fazendo-o chorar ainda mais. Ou seja ninguém ganhou nada com o negócio...
E por aí, qual foi o julgamento mais ridículo que vos fizeram ou que vocês fizeram enquanto não tinham filhos?
Com a crise económica que se avizinha são várias as pessoas que colocam em cima da mesa a hipótese de emigrar e por isso mesmo, nestes últimos dias, as mensagens com pedidos de informação sobre empregos, alugueres ou outros temas têm crescido nas diferentes páginas de facebook de emigrantes em França ou em Lyon de que faço parte.
A maior parte dessas publicações são cheias de esperança mas, em algumas delas sobressaí um certo desfasamento da realidade. E foi essa crença ainda tão presente de que emigrar é forçosamente sinónimo de sucesso absoluto que me impulsionaram a escrever este post.
Não quero com ele dissuadir ninguém de tentar a sua sorte até porque eu sou a prova viva de um processo que correu bem mas gostaria de vos trazer algumas lições sobre emigração que fui recebendo quer na primeira pessoa quer como alguém que presenciou as experiências melhores e piores de outros emigrantes.
Porque começar do zero não é fácil mas são os primeiros meses os mais duros e é uma decisão que deve ser tomada com "os pés bem assentes na terra", especialmente quando toda a família, inclusive crianças, está envolvida no processo.
Outro ponto que me parece importante frisar é que a crise económica não existe só em Portugal e mesmo os países mais ricos, e consequentemente maiores recetores de emigrantes, vão pagar um preço elevado por todas as medidas de lock-down e isolamento social que surgiram ao longo do último ano e isso que pode prejudicar quem chega "à procura de uma vida melhor".
Por isso aqui vos deixo dez coisas que me parecem fundamentais saber ou fazer antes de emigrar para que aqueles que estão decididos a partir o possam fazer nas melhores condições possíveis. 'Bora lá?
- Não partir totalmente à aventura:
Pessoalmente tive a sorte, porque a falta de pessoal na minha área profissional me permitia essa negociação, de vir com contrato de trabalho assinado e casa assegurada para os primeiros quatro meses.
Essa facilidade não é dada a todas as pessoas mas é importante que, antes de embarcar numa aventura destas, já se tenha um emprego assegurado e um local para morar. Ou senão amigos ou familiares que vos possam alojar e ajudar durante os primeiros tempos.
- Aprender as bases da língua:
Se não é preciso ser bilingue para emigrar parece-me necessário ter alguns conhecimentos da língua do pais de acolhimento o que, acreditem, vos facilitará a vida em muitas coisas.
Será mais fácil comunicar com possíveis patrões e colegas de outras nacionalidades (e consequentemente arranjar emprego), recorrer aos serviços de saúde e informar-se dos seus direitos e deveres. Porque infelizmente coisas menos boas acontecem e, entre possíveis doenças que surjam e ser vitima de má fé ou de contratos abusivos, não ter forma de comunicar pode ser bastante limitante.
- Trazer alguns documentos traduzidos:
Pode existir a necessidade de fornecer alguns documentos do pais de origem seja no aluguer de casa, no recurso aos serviços da segurança social e por aí fora. Por isso não se esqueçam de trazer traduções (oficiais, claro) de papéis que possam ser necessários.
Para documentos oficiais fornecidos pelo Registo Civil estes podem já vir em versão europeia (onde já estão traduzidos em várias línguas) o que é mais barato do que fazer a tradução do documento em português.
A não esquecer também de verificar as datas de validade do cartão do cidadão e da carta de condução e pedir um cartão de saúde europeu, que pode ser de extrema utilidade em caso de urgência hospitalar durante os primeiros tempos, e que é totalmente gratuito.
- Informar-se das diferentes obrigações administrativas:
Saber de avanço alguns dos passos a dar quando se chega ao novo pais é fundamental para que as coisas sejam mais fáceis.
Processos como a inscrição na segurança social, obrigações de responsabilidade civil, inscrições das crianças nas escolas e por aí fora podem ser verdadeiros quebra cabeças se não estivermos já minimamente preparados para eles.
Admito que ainda hoje, ao fim de quase sete anos, há procedimentos que me parecem autênticos quebra cabeças e ainda o ano passado nos vimos com uma história de seguro automóvel nas mãos que nos deu "pano para mangas".
- Chegar com alguma antecedência ao pais de acolhimento:
Há muitas coisas que são fundamentais e das quais nem nos damos conta mas quando vimos para um país novo temos de tratar delas.
Por isso chegar com algum tempo de antecedência será útil para a instalação e a realização de algumas tarefas básicas como abrir uma conta no banco ou ter um número de telefone para citar apenas algumas.
Se for mesmo a primeira vez na cidade nova é também importante conhecer a localização, e a forma de chegar, ao novo local de trabalho, ao supermercado mais próximo e por ai fora...
- Não trazer a casa às costas:
Quando se chega a um novo pais podemos ser obrigados a ficar num alojamento temporário ou a ter de mudar de cidade no meio do percurso, por isso trazer apenas o essencial será uma grande ajuda para os primeiros tempos.
Outra ideia importante é a de que não vale a pena investir muito em móveis e recheio de casa nos primeiros tempos pois, em caso de necessidade, esses objetos podem tornar-se um estorvo e quanto mais baratos menos peso na consciência teremos se os deixarmos para trás.
Em França uma boa opção passa pela compra de móveis em segunda mão já que existe muita variedade e existem lojas como a Emmaus que vendem coisas mesmo muito baratas.
- Ter uma solução de saída:
As coisas podem correr maravilhosamente, e na maioria das vezes nem se passam mal, mas pode acontecer que todo o projeto derrape e aí é importante ter uma solução de saída e algum dinheiro disponível para regressar a casa em caso de necessidade.
Claro que não é esse o objetivo mas mais vale prevenir do que remediar, certo?!
- Preparar-se para a Saudade e para a distância:
Toda a gente calcula que a saudade dói mas é quando estamos sozinhos e nos deparamos com a dificuldade real que é viver noutro pais sem conhecer nada nem ninguém que nos apercebemos de quão difícil ela pode ser.
E se há coisa que o amigo Covid nos trouxe foi uma distância enorme entre países.
Por isso preparação mental para a saudade e aproveitar as pessoas que vos são mais queridas antes de vir é fundamental para que o projeto se realize com maior tranquilidade.
- Aceitar as Diferenças:
Uma das grandes dificuldades que a maior parte do emigrantes encontra são as diferenças culturais entre Portugal e o país de acolhimento. Seja na comida, no comportamento das pessoas e mesmo na forma de pensar.
Aceitar estas diferenças de avanço e estar disposto a "aprender" com as pequenas falhas que todos fazemos é fundamental para uma boa integração.
E claro que todos nós conhecemos pessoas que só compram produtos portugueses, só vem televisão portuguesa e só se relacionam com outros portugueses (e na prática não há nada de errado com isso) mas mais cedo ou mais tarde, e pelas mais variadas razões, o desconhecimento da forma de fazer e da língua podem tornar-se um problema.
E já que estamos no pais dos outros porque não aproveitar o melhor que ele também tem a oferecer?!
- Memorizar que "rir é mesmo o melhor remédio":
Somos estrangeiros e, quer queiramos quer não, vamos ouvir uma ou outra piada mais ou menos gentil sobre o nosso sotaque, o nosso aspeto físico ou os nossos pequenos erros de dicção ou de gramática.
A juntar a isso as anedotas sobre o nosso pais de origem ou a noção ridícula de que somos um pais de terceiro mundo (tive uma colega que me perguntou uma vez de se fazia transplantes de órgãos em Portugal, como se fosse uma espécie de especialidade francesa, o que me deixou siderada...).
De qualquer forma é importante ter em conta que nem sempre as pessoas fazem estes comentários por maldade, apesar de existirem parvos em todo o lado, e que o melhor remédio é mesmo rir (e ser humilde o suficiente para aprender o que nos ensinam de bom grado pois nada como um nativo para nos ensinar a forma e o conteúdo da língua e da cultura do país...).
E por aí alguém com mais algumas coisas que queiram partilhar? Conhecem alguém que esteja a ponderar emigrar? Não deixem de partilhar com eles estas informações.
Hoje aqui por terras gaulesas celebra-se a Chandeleur que, simplificando as coisas, é conhecido como o "Dia de Comer Crepes".
Para saberem mais sobre o assunto deixo-vos um post da querida Patrícia do As Nossas Voltas que tantas vezes já explicou esta festa (e deixou mesmo algumas receitas) e aproveito para lhe desejar uma rápida recuperação.
Neste dia (e durante todo o mês de Fevereiro) comer crepes é uma tradição por aqui. Sejam eles doces ou salgados, simples ou combinando diversos tipos de farinha (os de trigo serraceno típicos da Bretanha continuam a ser os meus preferidos) eles podem dar origem a uma refeição fácil e convivial que alegra as papilas de pequenos e grandes.
Eu não sei vocês mas eu não conheço coisa melhor do que fazer o Mundo à volta de uma boa refeição mesmo que em pequeno comité.
Sendo assim, e caso precisem de uma desculpa para comer um docinho, desejo-vos uma excelente festa dos crepes.
Em primeiro lugar quero esclarecer uma coisinha com este post: ele foi feito em tom de brincadeira e não pretende nem atacar os Portugueses que vivem em França já que eu própria faço parte do "rol" e muito menos ofender os funcionários públicos em geral, e os consulares em particular.
Mais uma vez eu própria sou funcionária pública e tenho na minha família próxima vários funcionários públicos e sei que, apesar de toda a má fama, muitas vez se faz mesmo o melhor que se pode com o que se têm à mão!
Mas é uma verdade quase universal: qualquer pessoa têm sempre aquele "stressezinho" no momento de se dirigir a uma repartição pública seja porque assunto for.
Entre os preconceitos habituais e o facto de os processos mais simples serem muitas vezes morosos e termos a impressão de que são feitos para nos "dificultar a vida" as razões para atrasarmos ou tentarmos evitar de nos dirigir a uma conservatória ou a umas finanças são muitas.
Ir ao consulado não é igualmente uma parte de prazer.
Em primeiro lugar, e descobri isto recentemente, apesar de existirem muitos postos consulares em França apenas alguns têm reais competências de consulado o que quer dizer que uma coisa tão simples como fazer um cartão do cidadão pode ser um quebra-cabeças e exigir muitas horas de viagem para algumas pessoas.
Felizmente para mim, que vivo perto de um dos 7 consulados gerais, isso é um problema que não se coloca.
Por uma razão profissional, ou melhor numa história em que me foi pedido "beneméritamente" ajuda com um caso de um paciente que não dominava o francês, fiquei com uma péssima impressão do consulado.
Não vou narrar a situação pela simples razão de que considero que está guardada dentro do "sigilo profissional" e, mesmo que não fosse, não é uma história minha e por isso não têm lugar no blog.
A única coisa que interessa saber é que a situação era emergente e enquanto nós (hospital) pressionávamos de um lado, o consulado fazia aquilo que lhe competia e que dizem chamar-se "diplomacia". Em resumo todos tentaram fazer bem o seu trabalho mas o problema é que o relógio médico e o relógio diplomático não andam bem com a mesma velocidade...
Na realidade, e à distância, parece-me que os consulados são os parentes pobres dos registos centrais em Portugal.
Têm de lidar com situações complicadas (sim, porque a emigração na sua maioria não é clandestina mas há muitas situações dramáticas que se vivem e muita gente que ainda se encontra a braços com contratos ilegais, falta de inscrição na Segurança Social local e por aí fora), resolver "berbicachos" valentes com moradas, documentos caducados à anos e por aí fora e ainda lidam com uma população que, merecedora de todo o respeito, leva à letra a ideia do Português desenrascado (e um bocadinho Chico-Esperto).
No entanto, às vezes podia haver um esforço do outro lado para explicar de forma sucinta e clara alguns processos diplomáticos e um bocadinho menos de "eu estou aqui a fazer-te um favor" (admito que foi a primeira vez em que me pediram para desinfetar eu mesma a máquina dos cartões do cidadão enquanto a funcionária se manteve impávida e serena sentada na sua cadeira a 3 metros de distância). É preciso manter distâncias sociais mas não abusemos...
Os pontos positivos desta visita foram a rapidez e as marcações que nos fazem não perder horas lá, já que uma marcação às 8h, pelas 8h30 estava despachada... (O Covid têm coisas boas...). E a loja portuguesa do outro lado da rua (admito que se vou a uma loja portuguesa uma vez no ano é o muito) e que me permitiu comprar um queijo limiano que me ficou a apetecer desde o Natal...
E por aí quem têm experiência de consulado? Como se sentem com eles?
Beijinhos e até ao próximo post!
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A Cidade de Lyon, em França, que me acolhe desde 2016 têm uma grande tradição à volta do dia 8 de Dezembro.
É por estes dias que a famosa Fête des Lumières (ou Festa das Luzes, em Português) ilumina os principais pontos turísticos do centro histórico da cidade e quando as luzes de Natal se acendem.
A Festa das Luzes, como se conhece hoje, advém de uma tradição muito antiga em honra de Nossa Senhora.
Em 1168 é construída na Colina de Fourvière, um dos pontos mais altos da cidade, uma capela em homenagem à Virgem. Esta é renovada e acolhe peregrinos todos os anos pelo 8 de Setembro.
Chegado o ano de 1643 os representantes da cidade sobem à colina para pedir a proteção divina contra a peste que assola o Sul de França. Lyon foi poupada nesta ocasião e em muitas outras situações semelhantes ao longo da história o que faz aumentar a devoção dos seus habitantes a Notre Dame de Fourvière.
Em 1850, as autoridades religiosas lançaram um concurso para a realização de uma estátua de Nossa Senhora que seria colocada no topo da colina. A sua inauguração estava prevista para o dia 8 de Setembro de 1852 mas é adiada para o dia 8 de Dezembro do mesmo ano, devido a uma cheia no rio Saone.
Nesse dia o tempo estava bastante mau e mais uma vez as autoridades religiosas estavam à beira de anular a festa... só que o céu acabou por ficar limpo e os moradores dispuseram, de forma completamente espontânea, velas a arder nas suas janelas.
Quando a noite caiu toda a cidade estava iluminada. Os religiosos continuaram o movimento acompanhados pelo povo e a capela de Fourvière aparece a brilhar na noite de Lyon.
Desde esse dia uma verdadeira tradição nasceu e os Lyonnais colocam os chamados "lumignons" nas suas janelas, colocam os enfeites de Natal e as iluminações de Natal públicas são inaugurados nesse dia.
Desde 1999 a Festa das Luzes ocorre por quatro dias (sempre à volta do 8 de Dezembro) e acolhe visitantes do Mundo inteiro.
Este ano, e devido à pandemia não haverá Festa, apesar de algumas iluminações abrilhantarem a cidade, mas toda a gente já preparou os seus lumignons. Os nossos estão ali à espera de ir para a janela!
Fonte: https://www.fetedeslumieres.lyon.fr/
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