Durante os últimos anos a heterogeneidade tornou-se um verdadeiro mito. Em nome de uma tolerância, um tanto ou quanto hipócrita diga-se de passagem, vamos sendo cada vez mais encurralados em "caixinhas" (aquelas de que queremos sair à força) e isso é não só uma pena como é absolutamente pouco inteligente.
São as nossas escolhas e capacidades (sim, sim... não há que ter medo das palavras) que nos tornam únicos, interessantes e verdadeiros e é a nossa abertura para dar as mãos e oferecer cada um o melhor de si que nos fazem andar para a frente. Ora as nossas gerações que se consideram "as mais inteligentes de sempre" mas que demonstram a sua ignorância só no acreditarem de forma tão cega nesta frase esqueceram-se exatamente disso.
Não sei se já vos aconteceu, mas quantas vezes já dei por mim a pensar, numa noite com amigos, "nunca mais me apanham noutra" tanto a troca de ideias é viciada e pouco aberta a discussão. E pior, quantas vezes dou eu própria conta, de que me deixo levar por uma espécie de resistência passiva acabando por ir contra quem tem ideias tão "estabelecidas" simplesmente para contrariar.
Os algoritmos são culpados de muita coisa, não o nego, mas a nossa incapacidade em nos colocarmos em causa e a estarmos abertos aos outros é tanto ou mais culpada.
E assim se estragam amizades de anos, porque sejamos honestos não há ninguém que goste de ser acusado de tudo e corrigido por nada e sobretudo porque pessoas com opiniões sobre tudo e "cheias de certeza" se tornam auto centradas e, desculpem lá a expressão, insuportáveis.
E se acham mesmo que o problema é só dos outros comecemos por olhar para o próprio umbigo! Juro que são muitas as vezes em que me apanho meio que entalada na teia e também eu estou a pôr pessoas de lado porque não me identifico com elas a 100%, o que por si só é impossível.
E todos ganhávamos tão mais com a troca de ideias e com a união, ao invés deste Mundo polarizado e ridículo em que vivemos... onde a boa consciência de cada um é mais importante do que o avanço como um todo.
Um dos meus principais defeitos é o querer tudo para ontem. E se é verdade que faço o que posso para reduzir o seu impacto no meu dia a dia continuo a fazer sentir sobre mim e sobre os meus o peso da minha impaciência.
Estou, no entanto, convencida da importância do saber esperar nas nossas vidas (e do tanto que essa história de paciência está esquecida num canto da nossa memória).
Para mim alguém paciente é alguém que mantém os pés bem assentes na terra e não passa a vida "prego a fundo". Em contrapartida é alguém que sabe apreciar a chegada à meta.
É alguém que opta pelo que lhe faz bem seja qual for o tempo que isso lhe demore e que até sabe apreciar o caminho percorrido.
É também aquela pessoa que dá valor à relação humana, não se chateia à primeira, sabe respeitar o tempo do outro e acredita no melhor de quem está à sua volta. Quantas relações amorosas, familiares ou de amizade seriam bem mais simples se a paciência estivesse mais presente nas nossas vidas?
Esperar para vestir aquela roupa nova numa ocasião mesmo especial, não comprar algo por impulso ou ler um livro sem espreitar o fim são alguns dos desafios que nos podem levar a compreender a paciência e a sentir a realização que ela pode trazer à nossa vida.
Ser paciente, mostrou-me a vida adulta, é a mãe de todas as virtudes. E que mais simples seria a nossa vida com ela...
2022 não foi um ano fácil mas ainda trouxe algumas coisas boas.
Trouxe aprendizagens e uma das mais importantes foi que ter "liberdade" não é apenas fazer o que se quer mas implica também assumir e respeitar as responsabilidades que essas escolhas nos trouxeram.
Também aprendi que a paciência é fundamental e que o "eu sou assim" não é razão para descarregar o mau humor nos outros. Ninguém tem sempre razão e ninguém e sempre culpado.
Por outro lado 2022 fez-me redescobrir um prazer enorme em fazer bolos e a vê-los ser apreciados pelos meus. Também me trouxe uma serenidade e uma confiança no meu papel de mãe que é não só agradável como motivante.
Por fim 2022 ensinou-me que a resiliência é difícil mas que desistir nem sempre é a solução.
Posto isto e com a bagagem que adquiri o ano passado estabeleci como votos para 2023:
- Aprender a falar menos, porque uma "grande boca" não ajuda ninguém e eu tenho esse grande defeito de falar demais;
- Ouvir mais porque uma coisa vai com a outra;
- Cozinhar mais e se possível aprender mais de doçaria;
- Continuar a decoração da minha casa;
- Focar-me mais no positivo do que no negativo. Porque tenho uma vida rica, apesar de imperfeita, e tantas vezes teimo só em ver o negativo...
E por aí quais foram as melhores aprendizagens de 2022? E os projetos para 2023?
A palavra Advento vem do latim "adventum" que significa vinda ou chegada e é vivida pelos cristãos como um tempo de preparação para o Natal.
Esta época do ano é ainda mais importante em tempos difíceis como os que vivemos entre guerras, recessão e tantos outros problemas. Todos os dias, mesmo na segurança das nossas casas, somos bombardeados com notícias cada uma pior que a outra.
Sou uma otimista e acredito sinceramente que é o amor que distribuímos, a começar por quem nos está mais próximo, que criará mais e mais amor numa corrente sem fim. E é esse amor que nos pode tornar fortes o suficiente para reagir, ajudar quem precisa e sair deste clima geral de "eu aponto o dedo aos problemas e os outros que os resolvam". E é esse para mim o grande desafio deste tempo.
Que limitemos os presentes mas multipliquemos por três o tempo dedicado à família. Cozinhemos, aproveitemos para passear no exterior e desfrutar das lindas paisagens de Inverno. Façamos a "caça" aos eventos culturais (que na sua maioria são gratuitos e existem em muitas cidades mesmo do interior) e deslumbremos-nos com as luzes de Natal, pequenos e grandes. Deixemos que a magia do natal nos deslumbre e fortaleçamos laços e distribuemos solidariedade ao longo desta época. Se é verdade que a solidariedade é esquecida o resto do ano também é verdade que mais vale fazer algo bom apenas no Natal do que nunca...
Que cheguemos à noite da consoada mais ricos do que mais importa. E que este Natal, que até pode ser mais pobre, será seguramente Feliz.
Quem nunca teve um dia difícil em que tudo corre mal e que chega ao final do dia lavado em lágrimas que atire a primeira pedra? Se é verdade que doenças graves, perdas de entes queridos não são nada comparado com os nossos problemas do dia a dia a verdade, os primeiros também podem ser dolorosos e destrutivos.
Quando esses dias chegam nada corre bem. É o conflito, é a negação e o sentimento de que nada é suficiente, que nada presta. E cumulativamente a nossa própria autoestima é destruída com eles. E desistimos, e deixamos de contruir e dar o melhor de nós a quem mais queremos.
Quando esses dias chegam existem duas opções: aproveitar o embalo de já estar bem lá no fundo e dar a volta por cima ou deixar-se ficar.
E se dar a volta por cima fosse a melhor coisa que nos podia acontecer? Se for a ocasião perfeita para se colocar em causa, alinhar objetivos e prioridades e definir uma melhor versão do "eu".
E depois de ultrapassada a fase dificil é importante não se esquecer dela. Guardar no canto da memória para da próxima vez, no próximo desafio podermos ter a certeza de que faremos no mínimo igual. E tudo correrá bem!
Porque a cada dia difícil corresponde uma nova oportunidade. Nunca nos esqueçamos disso!
Aproveitar o tempo, respirar. Aproveitar aquele momento ali. Reencontrar-se. Aceitar que nem tudo pode mudar ali e agora já mas ter a certeza de que irá ser melhor das próximas vezes.
Ser mais do que ter, estar mais do que nunca no aqui e no agora.
Este tempo de rentrée trás uma certa tendência à mudança, ao renascer da fénix depois dos dias quentes e regados de coisas boas.
Que este recomeço tragas novos e melhores objectivos e sobretudo melhores dias e novas cores e sabores.
Ouvimos dizer por tudo quanto é sítio que é preciso ir atrás dos nossos sonhos custe o que custe e que desistir é impossível.
Parece que esta frase se tornou o mantra de muita gente. Pessoalmente apercebi-me que é sobretudo a desculpa perfeita para não colocarmos os nossos objetivos em causa aceitando o desconforto que isso nos causa.
Acreditei de tal forma, e durante tanto tempo nesta filosofia, que me custou horrores colocá-la em causa e portanto, a uma certa altura, não tive escolha e percebi a importância de aceitar as coisas como elas são, com os limites que todos nós temos e o simples facto de que nem tudo depende apenas de nós e de que não vivemos sozinhos nesta vida.
Mas demorei que me fartei a perceber isso e as desilusões e alguma vitimização fizeram parte do processo.
Defendo a perseverança com todas as minhas forças mas também percebi que há uma linha muito ténue que a separa da teimosia pura e dura. E que a mudança de caminho pode trazer-nos experiências maravilhosas... apenas temos de nos permitir abrir mão do que tanto queremos (ou achamos que queremos) e fazê-lo em paz consigo próprio.
Porque às vezes é preciso dar um passo atrás para dar dois à frente e isso não é nem melhor nem pior do que lutar até ao fim pelo que se quer. Para mim em todo o caso permitiu-me "sair do mesmo sítio" e não esperar eternamente a oportunidade que há-de chegar, chorando pelos cantos sem conseguir sair do mesmo sítio.
E por ai de que lado da barricada se colocam: Lutar até cair ou dar um passo atrás e dois à frente de bem com a vida e em paz com a escolha?
A maternidade consegue colocar do avesso a vida de qualquer pessoa. E se de um lado há um cansaço que se acumula e que é difícil de gerir, especialmente ao início, por outro lado traz momentos muito intensos e aprendizagens gigantes. Comparo a minha ainda recente condição de mãe a ser submersa por uma onda gigante que parece nunca ter fim.
Não posso deixar de confirmar que o meu filho é a melhor coisa que tenho no Mundo. Os seus sorrisos, gargalhadas, conquistas e deslumbramentos têm em mim um efeito tónico especial e completamente inédito. Mas a maternidade, para além de me ter transformado em "Mãe" também mexeu intensamente na minha feminilidade.
Sem pensar muito direi que me tornei mais forte mas ao mesmo tempo mais protetora em relação a quem amo. Passei também a tentar ser mais corajosa e justa com o que se passa à minha volta.
Aprendi a aceitar o meu corpo, mesmo com as suas imperfeições. Afinal ele conseguiu dar vida e isso já é mais do que motivo para sentir gratidão. (re)Aprendi e (re)descobri o prazer de escolher o que vestir, como me maquilho, como me cuido... afinal a imagem que quero ter é também a imagem que lhe quero transmitir a ele.
Ser mãe ensinou-me a relativizar, a aceitar as muitas tonalidades de cinza que existem. A procurar beleza em tudo, mesmo tendo consciência de que nem sempre o Mundo seja tão belo como gostaria. E daí nasce uma crença, como uma força destrutiva que me faz acreditar que é o amor e a beleza que podem trazer reais mudanças no Mundo.
Ser mãe desenvolveu-me a paciência e capacidade de compreensão. E mostrou-me que, mesmo quando não sou nem tão paciente nem tão compreensiva como gostaria, sou tão digna de perdão como qualquer outra pessoa.
Ser mãe ajudou-me a redescobrir-me e a assumir aquilo que quero e gosto, custe o que custar. A aceitar o que não pode ser mudado para já e a fazer-me mais confiança do que nunca.
Ser mãe não transformou a minha vida em azul, nem em rosa. Fez dela um arco-íris de mil cores em que todas elas fazem partes juntas.
E se não é preciso ser mãe para mudar, no meu caso foi uma enorme transformação).
O Outono chegou para ficar, o pequeno já está a adaptar-se à creche e eu não tarda regresso ao trabalho. Foram dias que passaram a uma velocidade assustadora, acho que nem dei por eles.
Estou a fazer os possíveis por aproveitar estes últimos dias de família a tempo inteiro. Deixei de lado os mantras, as páginas de instagram de parentalidade positiva e de super mães e decidi-me a fazer as coisas com serenidade e ao feeling, sem pressões nem culpabilizações e sobretudo sem grandes margens de comparações.
Os dias passam e estou a aproveitar cada segundo para me lembrar de que nada será como dantes mas que, apesar das dificuldades, os dias ganharam uma nova cor.
Agora vai ser preciso levar essa cor para o dia a dia, sem perder o norte. E se não for perfeito, não faz mal... a vida é eterna aprendizagem e uma família que se preze perdoa e aprende com os erros dos outros.
E agora que os dias passam, as horas correm... eu aproveito cada segundo
Aproveitamos que estávamos os dois em casa para ir tratar do cartão do cidadão do herdeiro ao consulado. Sendo que não vamos a Portugal há praticamente um ano não queremos colocar em causa a possibilidade de ir pelo Natal e decidimos ir tratar do assunto, especialmente porque o cartão do cidadão deve ser feito nos primeiros vinte dias de vida de uma criança.
Infelizmente o herdeiro anda numa fase em que acha que o mundo é muito divertido e que dormir é uma autêntica perda de tempo pelo que as sestas, tão necessárias nesta ideia, são esquecidas e depois temos de lidar com do "tenho sono mas não quero dormir".
Durante o tempo de espera (muito atrasado, mesmo com hora marcada) e com os estímulos que vinham de todos os lados, a certa altura o pequeno desatou num pranto e ficou impossível de consolar muito por causa do sono acumulado.
Enquanto a funcionária que nos atendeu foi um poço de amabilidade e com uma paciência infinita, compreendendo que aquilo não estava a ser fácil de gerir, fez o melhor que pode para simplificar as coisas, a colega do guichet do lado, depois de soprar umas quantas vezes e praguejar mais algumas, perguntou-me descaradamente se não tinha ao menos água para dar ao miúdo.
Foi a primeira vez que alguém me fez claramente um julgamento pela forma como lido com o meu filho e fiquei nem sei bem como (entretanto, e sem me conseguir conter, respondi-lhe sem medir a educação das minhas palavras).
Se se ficasse só pelos suspiros ainda passava mas interpelar a mãe, neste caso eu, sobre o que deve ou não fazer é um limite que nunca acreditei que alguém conseguisse passar, especialmente quando o atraso foi deles e eu estava a fazer todos os possíveis para o acalmar e despachar as coisas o mais depressa possível...
Considero que existem duas razões para as pessoas fazerem julgamentos de valor sobre este assunto, sendo que uma delas é a falta de conhecimento e a outra puro azedume.
Para o segundo não há solução e para o primeiro o meu filho, em menos de três meses, já me ensinou o antídoto: muita paciência e meter todas as opiniões sobre a educação dos outros num sítio que nós cá sabemos...
Se estivessemos todos mais dispostos a colaborar e menos a julgar os outros, seja porque razão for, o Mundo seria um local bem mais agradável e encontraríamos bem mais soluções para os seus problemas. Porque a única coisa que aquela senhora conseguiu foi enervar-me mais ainda a mim e em consequência irritar ainda mais o meu filho fazendo-o chorar ainda mais. Ou seja ninguém ganhou nada com o negócio...
E por aí, qual foi o julgamento mais ridículo que vos fizeram ou que vocês fizeram enquanto não tinham filhos?