Para mim é urgente falar de educação afetiva!
Durante o meu período de baixa e de licença de maternidade durante a gravidez o computador foi inevitavelmente a minha companhia. Entre documentários, notícias mais ou menos tristes e afins foram vários aqueles que me fizeram pensar, refletir, filosofar...
Um desses temas foi o da educação afetiva.
Ao longo do último ano que passou foram vários os temas "fraturantes" que surgiram em praça pública. Vimos entre outras coisas a escola "catapultada" para uma posição de responsável da educação sexual das crianças, seja pela sua implicação nas questões das ditas "ideologias de género" ou "educação sexual" chegando ao extremo de lhe ser pedido de tomar uma postura quase contrária à dos pais em caso de "litígio" entre eles e os seus filhos (atenção que para mim um pai que questiona o filho sobre as suas escolhas não está em litígio com ele, está apenas a cumprir o seu papel de pai e parece-me desonesto afirmar o contrário como já foi feito. E é também importante relembrar que um pai ou mãe que se questiona e que se interessa é diferente de um pai indiferente, agressivo ou violento e é perigoso assumir sempre que são iguais).
Não é o meu papel, nem o deste blog, de fazer política ou questionar decisões governamentais. Tenho opiniões bem documentadas sobre algumas coisa, sobre outras nem por isso e nem é isso que me importa.
Mas há algo que me deixa inquieta! No meio de tanta biologia, ou falta dela. De tanto ensinar as crianças os nomes e o funcionamento dos órgãos sexuais, dos meios contracetivos, do recurso ao aborto esquecemos outros ensinamentos importantes: o facto de sermos seres humanos, o que nos faz ser mais afetivos do que instintivos nas relações humanas, inclusive intimas.
E há alguém que fale tão abertamente disso aos jovens como se fala de preservativos? Não! A escola não o faz porque não pode e porque não é esse o seu trabalho, os pais estão cada vez mais distantes, sobretudo no caso das famílias mais destruturadas ou das classes socio-económicas mais baixas e a sociedade tirou a palavra sexo da lista dos tabus e colocou lá a palavra afetividade...
Todos nós já passamos pela adolescência e quase todos pela fase da descoberta do corpo e do desejo. O que sentiriamos ao perceber que quer para nós quer para aquele ou aquela que está connosco a única coisa que conta é o ato em si, sem amor, sem carinho, sem sentimentos... Como nos sentiriamos se nos gritassem aos ouvidos que somos muito mais do que um corpo mas que nos ensinam que nas relações intimas somos uma espécie igual a tantas outras?
E pergunto-me o que esta lacuna trará para os nossos jovens, se não os tornará cada vez mais supérfluos e consumistas até em relação às relações humanas. Procurando cada vez mais sem nunca lhe ser suficiente... talvez porque não saiba do que está à procura?
Cabe-nos a todos nós, enquanto adultos e independentemente da nossa posição ou profissão, explicar a importância de valorizar o seu corpo acima de tudo e de o respeitar, que o poder da mulher ou do homem não reside no número de parceiros sexuais mas sim no seu caractér, na sua pessoa como um todo e no seu caminho próprio e que uma relação que vale a pena e que é realmente prazerosa é aquela em que as duas partes estão ligadas mais do que pelo corpo mas também pela cabeça.
Sim, o meu discurso é hasbeen e muito a contracorrente, mas não haverá uma certa necessidade de levar algumas destas ideias aos jovens que estão à nossa volta?!
Para mim é urgente falar de educação afectiva! E para vocês?
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