Não, nem tudo vai ficar bem...
Somos seres de hábitos mas a nossa capacidade de nos adaptarmos a situações adversas é muito grande e é isso que estamos a fazer durante esta fase complicada em que vivemos.
Voltámos às origens: a fazer pão e bolos, a dedicarmo-nos à agricultura, à costura, à pintura e à leitura entre tantas outras coisas das quais nos fomos desconectando ao longo dos anos. Diz mesmo o Sapo que houve um aumento enorme do número de blogs... e houveram tantos outros que retornaram ao fim de muitos anos.
Considero-me uma pessoa otimista, apesar de tudo. No entanto, e mesmo depois de ter tentado mostrar o lado positivo das coisas, tenho também que assumir a realidade: Nem tudo vai ficar bem!
As adversidades que estão pela frente são muitas e, infelizmente, penso que o isolamento social prolongada trará ainda muita coisa menos boa pela frente.
Em primeiro lugar todas as famílias que perderam entes queridos com esta doença. Todas as famílias que perderam entes queridos durante este período por outras razões e que nem se puderam despedir convenientemente.
Depois há toda a ansiedade e terror que esta situação criou, toda a falsa solidariedade... Sim, porque foram muitos os que bateram palmas aos profissionais de saúde mas houveram outros tantos profissionais que sofreram discriminação de uma forma ou outra.
Foram as amizades quebradas pela distância e falta de compreensão. Foi a sensação de desconfiança que sentimos em relação a quem nos rodeia. O policiamento das atitudes dos outros e de nós mesmos.
Estas situações são marcas que ficaram para a vida. E não, não vai ficar tudo bem quando acabar a "quarentena" ou quando surgir a tão esperada vacina. Estas marcas ficaram para sempre, a nossa forma de viver mudará para sempre também.
E ainda há todos os problemas económicos e sociais: o desemprego, as famílias destruidas por uma aproximação excessiva e não desejada. Os projetos pendentes e o "come e cala" que a situação sócio-económica trará.
Por isso não, não vai ficar tudo bem. Para nos sairmos bem temos de aceitar este facto.
As coisas vão melhorar porque não há mal que sempre dure e a nossa capacidade de reinvenção advém, muitas vezes, das dificuldades.
Vamos safar-nos desta com esforço e dedicação. Mas não, não vai ficar tudo bem... pelo menos por agora, pelo menos para já!
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