"Não ligues" - 3 Razões pelas quais eu já não a ouço
Dizemos "não ligues" quando queremos que o (aparente) bom ambiente se mantenha e ensinamos as crianças desde pequenas a fazer o mesmo. Talves hoje as coisas tenham mudado mas não necessariamente pelas boas razões.
Eu e uma grande parte da minha geração ouviu esta frase vezes sem conta. Aliás ainda hoje tenho direito a ela, apesar do enorme descontentamento que ela me provoca e que nem me esforço de esconder.
No entanto nem sempre foi assim. Era do género a fingir "não ligar" e foi isso que me fez perceber que, apesar de parecer uma boa ideia, ele só serve para nos deixar mal na nossa pele.
Hoje em dia a minha estratégia é totalmente diferente. Recebo o comentário e, depois de o ter processado, decido se quero responder ou não e como o quero fazer.
Claro que, como não sou nenhuma santa, isto também abriu a possibilidade de nem sempre dar uma resposta tão educada como deveria mas acho que a minha qualidade de vida e amor próprio aumentou muito graças a isso.
O que me fez deixar de ouvir esta mítica frase do "não ligues" foram essencialmente três razões.
Deixo a ressalva de que estas opiniões são pessoais e que se algum de vocês funcionar bem com este tipo de pensamento tiro-vos o chapéu. No meu caso, e em toda a honestidade, esta forma de pensar não funciona e este blogue é também sobre nem sempre fazer o que se espera de nós desde que nos sintamos bem connosco próprios.
- Recuso-me a dar mais tempo de antena ao assunto:
Quando tento "não ligar" a uma provocação apenas a estou a deixar em segundo plano na minha cabeça. Ora de que me serve não dar atenção a um comentário que me faz mal mas passar o resto do dia a ruminar?
Para isso mais vale ou escolher conscientemente ignorar ou, em casos mais prolongados ou graves, colocar um fim imediato e resolver assim o assunto de uma vez por todas.
Há consequências? Como em tudo na vida... mas usando um velho ditado "enquanto o pau vai e vem folgam-se as costas".
- Não quero dar a possibilidade ao outro de ganhar um ascendente sobre mim:
Recentemente a filha de uma colega na escola foi vitima de patifarias por parte de umas coleguinhas. A primeira reação da família foi o famoso: "não ligues".
Mais tarde a mãe, depois de ler sobre o assunto, contou-me que o autor do livro defendia que nunca responder a uma agressão dá a sensação ao agressor de que não tem limites e que pode fazer tudo o que quer. E quanto mais se deixa evoluir a história mais a criança terá dificuldade em se safar dela.
Não sou especialista em comportamento humano mas conheço um número razoável de pessoas firmes e retas para perceber que isto é bem verdade.
E o mais engraçado é que muitas dessas pessoas são bastante agradáveis e bem educadas a impor os seus limites. Lá se vai a teoria dos nossos pais de que quem responde é mal educado, não é?
- Exijo respeito:
Sei que estamos na era das ofensas por pouca coisa e que temos de relativizar um pouco a vida. Mas a verdade é que há coisas que nos fazem realmente mal e são gratuitas e essas nunca devem ser ignoradas.
Por isso, quando recebo um comentário que saí daquilo a que estou disposta a aceitar não finjo que não ouvi. Respondo nem que seja de uma forma jovial para mostrar à outra pessoa que recebi a mensagem mas que esse assunto não é do foro público e não o quero discutir com ela.
Posto isto gostaria de deixar outro pequeno ponto que me parece importante.
Quanto mais dizemos a alguém para não ligar mais corremos o risco de lhe passar a imagem de que os seus sentimentos não interessam. E isso não lhe vai ser útil em nada salvo em prejudicá-la. Sobretudo quando falamos de crianças e adolescentes.
E por aí: adeptos do "nao ligues", do tipo "agressão-reação" ou, tal como eu agora, tentam escolher conscientemente as vossas batalhas e não se deixar envenenar?
Photo by Daniel Mingook Kim on Unsplash
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