Mais um Adeus!
A nossa vida na Cidade dos Leões têm sido marcada por dizer "Adeus".
Adeus às nossas famílias de cada vez que voltamos para cá ou que são eles a partir, de adeus aqueles com quem partilhamos a nossa vida e que tem saído da cidade pouco a pouco.
A vida é mesmo assim me dirão vocês (e é absolutamente verdade) mas admito que enquanto sorriu e felicito sinceramente a pessoa pelo novo capitulo que vai começar a escrever, estou a controlar o meu coraçãozinho que se serra um bocadinho mais de cada vez que um até breve se anuncia.
Um adeus é sempre um adeus e, enquanto somos mais jovens (ou não temos filhos "às costas") acabamos por estar disponíveis para mais um jantar, mais um café ou mais uma saída à noite o que, a defeito de termos amigos daqueles à séria, nos dá a impressão de não estarmos sozinhos.
Infelizmente o ritmo de vida, as responsabilidades, as distâncias físicas e um certo individualismo disfarçado de um "eu chego-me bem a mim mesmo" protetor (mas realmente falso) fazem com que, quanto mais sentimos necessidade de uma rede de apoio mais nos sentimos sozinhos e isolados. Dizem que é preciso uma aldeia para educar uma criança mas olhamos à volta, vemos muita gente mas mais sozinhos do que nunca.
Por estes dias uma colega de trabalho ligou-me. Se quando cheguei ao hospital a achava insuportável, ao longo dos anos, da sorte (há mais de 6 anos que é o meu "binómio" nos fins de semana) e da minha detestável mania de dar segundas oportunidades tornou-se uma presença constante e assídua na minha vida.
Pelo nascimento do meu filho foi não só de uma ajuda enorme a nível material (todos os recém papás sabem o jeito que dá quando alguém nos cede o material de puericultura que já não precisa) mas também com conselhos e escuta (o que se diga de passagem é raro, a maior parte de nós limita-se a fazer um sinal afirmativo com a cabeça e a fingir que ouve ou então a fazer um comentário qualquer para rematar rapidamente o assunto).
Numa altura em que, sem experiência nenhuma nisto da maternidade e a sentir-me uma verdadeira idiota no assunto, mas com um orgulho tão desmesurado que me fazia ter vergonha em confessar os meus medos e fingir que tudo está bem o tempo todo, foi a primeira pessoa com quem me senti à vontade para falar. Dois filhos com menos de 16 meses de diferença e um adolescente fruto do primeiro casamento do marido davam-lhe alguma credibilidade aos meus olhos
E foi das raras pessoas que me soube realmente fazer perceber que tinha armas suficientes para lidar com as coisas mas que o primeiro passo era aceitar a minha vulnerabilidade e imperfeição mostrando-me que os problemas podem ser mais pequenos do que parecem e que as fraquezas podem tornar-se forças ao longo do tempo.
Neste telefonema que me fez acabou por me anunciar a sua partida iminente. De há alguns anos para cá estavam cada vez mais envolvidos em projetos de voluntariado na paróquia que frequentam mas desta vez concretizarão o sonho de uma vida: partir em missão humanitária em família, uma experiência e tanto para o casal e os dois filhos.
Não posso deixar de lhes tirar o chapéu e de usar uma expressão grosseira mas tão verdadeira "é preciso tê-los no sítio"! Sobretudo tendo eu própria explorado essa possibilidade há alguns anos atrás sem, no entanto, estar suficientemente motivada para passar da fase de procura de informação, tanto a coisa me parecia exigente!
Acredito sinceramente que cada um de nós tem uma missão nesta vida e que eles vão seguramente viver uma das deles. Sinto honra e orgulho no quanto acreditam neste projeto e sobretudo no quanto se estão a preparar emocionalmente para este embate que segundo as suas próprias palavras "trarão momentos muito duros para nós e para os miúdos".
E é esta coragem de aceitar a vulnerabilidade que me vai fazer falta, assim como a força, a confiança, a energia e a positividade de tantos daqueles que vimos sair do pé de nós ao longo destes anos.
E a questão que se impõe: será que algum dia será a nossa vez de partir ou a nossa missão de vida é mesmo por aqui? Acredito que estamos sempre onde devemos estar por isso vamos esperar para ver...
Um grande beijinho e até ao próximo post!
Photo de Daniele Colucci sur Unsplash