E se este Verão "desacelerassemos"?
Os nossos dias são pautados por uma velocidade desenfreada.
Esse ritmo é, de certa forma, imposto pela era em que vivemos. Mas será que nós próprios não aceleraramos ainda mais do que o necessário?
Será que não nos habituámos a correr o tempo todo de forma a que nos sentimos uns incapazes se não podermos dizer "não tenho um minuto para mim?".
Passo a contar-vos o episódio que deu origem a esta reflexão:
Ao telefone uma pessoa muito próxima queixa-se do ritmo. Entre o trabalho e uma atividade extra que faz para ajudar a suportar algumas despesas da família ainda acompanha os dois filhos em atividades desportivas e artisticas. Os miúdos estão ocupados quase todos os dias da semana e aos fins de semana tem jogos e apresentações. Em determinadas alturas do ano, algumas dessas atividades ainda se sobrepõe com outras mais esporádicas.
Diz-me ela: "Tenho mesmo de ver se acalmo. Eles aguentam mas eu tenho muita dificuldade em aguentar este ritmo".
Ouvi o que me disse até ao fim e respondi que se calhar os miúdos também precisam de ir mais devagar. Para além de que se já lhes enchemos a agenda antes dos 10 anos nunca saberão parar.
São indiscutiveis os benefícios tanto dos hobbies como das atividades desportivas seja para crianças ou para adultos. Mas estará correto deixarmos os miúdos gerirem agendas destas? E nós mesmo como é que, com uma agenda sempre tão cheia, poderemos ser surpreendidos pela própria vida e quem sabe descobrir novas ocupações e interesses?
De uma forma geral, crianças e adultos, quantas destas atividades é que são realmente fontes de prazer e de resiliência e quantas delas são feitas porque alguém disse "que era bom para", por puro hábito ou simplesmente porque existe o medo de ser menos do que os outros se não se fizer no mínimo tanto quanto eles? Não seria melhor fazer menos mas tirar mais proveito do que se faz, garantindo também tempo para descansar, brincar, arrumar coisas ou simplesmente respirar?
Aproveitemos o Verão para refletir a tudo isto. Se acharmos que o que temos nos corresponde tanto melhor. Senão ainda vamos a tempo de refletir na organização da rentrée e podemos fazê-lo enquanto passeamos pelo campo, contemplamos o mar ou bebemos um copo numa esplanada. Há maneiras piores de desacelerar, não?
Um grande beijinho e até ao próximo post!
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