Crónicas da Ascenção
A Quinta Feira da Ascenção é dia de feriado municipal na minha terra natal e, apesar de não o passar por lá há muito tempo, continuo a festeja-lo.
Neste dia existe, por terras ribatejanas, a tradição de "ir apanhar a espiga". A espiga consiste num ramo composto por várias espigas, flores do campo e raminhos de oliveira e videira. Acreditasse que aquele raminho deve ser seco e guardado durante o ano para trazer boa sorte.
Cada componente da espiga têm uma representação diferente: o trigo representa o pão, o malmequer o dinheiro, a papoila o amor, a oliveira a paz, o alecrim a saúde e a videira a alegria. Podem juntar-se outras flores ou espigas dependendo da tradição local e dos hábitos familiares. Ou até se pode juntar uma qualquer flor simplesmente porque é bonita.
E desengane-se quem acha que a cumpríamos como uma qualquer outra tradição aborrecida que mantínhamos para agradar aos nossos avós. Em crianças era uma festa seguir, em família, pelos caminhos campestres e a fazer os quilómetros necessários para encontrar tudo o que era preciso. Ninguém se queixava do cansaço tal era a vontade de ter um ramo completo.
Mais tarde, na adolescência, tornou-se um dia para passar com os amigos. Fazíamos piqueniques, participávamos nos peddypappers que eram organizados pelas coletividades da terra, jogávamos à bola e passávamos horas a rir e a brincar aproveitando o dia até ao pôr do Sol.
Eu, que nem sou assim tão saudosista, morro de saudades deste tempo