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Crónicas da Cidade dos Leões

Um blog que adora partilhar dicas e reflexões sobre lifestyle, descobertas e organização. Sejam Bem Vindos!

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Crónica de Livro #1: "Hunt, Gather, Parent"

Cá por casa o exercício da educação é uma descoberta constante e faz-nos dizer que ter filhos é, ao mesmo tempo, a coisa mais difícil mas também a melhor que já fizemos.

Na época da globalização e do individualismo muitas vezes forçado, nós somos o exemplo típico de muitos pais da atualidade:

- Vivemos isolados pela emigração e pela distância que nos separa das nossas respetivas famílias (o que pode ser uma desvantagem em relação a quem tem familiares próximos quer a nível da famosa carga mental, quer em tensão entre o casal e com a criança) e que nos fazem viver na pressão constante do "ou está comigo ou contigo" o tempo todo; 

- Temos falta de modelos educativos que nos possam servir de inspiração e em quem podemos realmente confiar (cada vez temos menos amigos e familiares com filhos e os que os têm vivem longe e tem também eles agendas sobrelotadas). 

- Apesar de termos horários fixos, podemos dispor de tempo útil para o nosso filho o que é uma grande vantagem que temos em relação a muitos outros casais com horários mais carregados. Em contrapartida hobbies e atividades pessoais e em casal foram deixados no fundo da lista de prioridades com tudo o que isso implica... 

 

Desde o inicio a falta de confiança e de modelos fez com que me sentisse tentada a "consumir" tudo e mais alguma coisa sobre parentalidade. No entanto rapidamente "meti um travão" a essa mania e hoje em dia filtro toda a informação que recolho, independentemente da sua fonte, por considerar que excesso de informação pode ser prejudicial, sobretudo quando ela é contraditória. Sem contar que cada um apresenta o seu "método" como "o único que funciona" o que todos sabemos não é verdade. 

No entanto, quando as sugestões vem de pessoas que me são queridas ou em quem confio, posso abrir exceções e deixo-me levar pela curiosidade e foi o que aconteceu com este livro. A ideia desta crónica é fazer-vos um pequeno resumo e dar-vos margem de reflexão.

Infelizmente o livro só pode ser encontrado em Portugal na sua versão anglo-saxónica, o que é uma pena. 

Vamos então ao que interessa: Michaeleen Doucleff é uma jornalista e mãe norte-americana que se sente "levada ao extremo" pela filha Rosy de três anos de idade. E é num momento em que a relação mãe e filha entra em real colisão que ambas partem à aventura para aprender com as tribos de caçadores coletores mais reconhecidas pelos seus métodos de educação.

E é desta forma que nos encontramos numa viagem pelo México, pela Tanzânia e pela Gronelândia.

- A primeira visita é às tribos Mayas no México. A autora e a filha são recebidas por alguns nativos que partilham os seus métodos educativos dos quais se destacam importância de fazer perceber à criança que faz parte de algo maior do que ela, neste caso a família e a comunidade. Para isso é sugerido (e aceite) que a criança ajude nas tarefas domésticas e que apesar de nada ser "obrigatório" é deixado claro que a colaboração é apreciada em retorno. 

- Na segunda parte do livro "voamos" até à Tanzânia onde a ideia principal apresentada pelos Hazda é a da autonomia da criança, aceitando que ele corra riscos e criando uma rede de segurança invisível que tornem esse método possível sem termos de dizer "não", "para" e "stop" o tempo todo.

Claro que para isso a existência de uma rede de apoio e o envolvimento dos irmãos mais velhos é essencial mas mesmo assim há pequenas coisas onde podemos dar mais confiança aos miúdos em vez de os "esmagar" desde o começo.

Este ponto fez-me refletir que há 30 anos atrás nós tínhamos o direito de ir brincar na rua e de ir a casa de uns e de outros a pé. Toda a gente na vila se conhecia e isso ajudava bastante. Hoje em dia os meus primos da mesma idade não podem andar de bicicleta se não houver supervisão parental, nem mesmo há porta de casa, nem mesmo num sítio onde não haja trânsito (que é a desculpa preferida de toda a minha família)... É previsível de perceber quem tinha mais autonomia (e consequente responsabilidade) aos 10, 11 anos de idade.

 

- Por fim somos levados até à Gronelândia onde os Inuies nos ensinam a importância de preferir o silêncio e a comunicação não verbal à logorreia parental permanente (como sugeriu a autora gastei 20 minutos do meu precioso tempo para observar o meu comportamento e assumo que me impressionou a quantidade de informações, explicações, avisos e perguntas que fiz ao miúdo nesse tempo. Cá para mim pensei que, se fosse ao contrário, já há muito que tinha dado um berro a dizer basta. Claro que ele do alto dos seus 2 anos e 9 meses não me liga patavina...).

Outra coisa de que a autora fala é a necessidade de reduzir os elogios e substitui-los por reconhecimento. Admito que este foi o ponto onde a minha definição de parentalidade mais foi alterada já que me apercebi que realmente dizer "bravo" a tudo faz com que o "bravo" perca valor enquanto um "excelente trabalho, já és um menino crescido" na hora certa é muito mais eficaz. Cá em casa o "estás a portar-te como um bebé" também teve o seu impacto :)

Pelo caminho alguns outros métodos que, portanto os nossos pais até usavam connosco mas que nós deixamos cair em desuso como ignorar as birrinhas ou os maus comportamentos para chamar a atenção (eu pelo menos vejo poucos pais da minha geração a fazer isso preferindo "conversar" com a criança), usar os peluches e os jogos como "principais veículos de informação", desviar a atenção da criança para outra coisa, usar um "olhar matador" ao invés de um discurso de 10 minutos para mostrar desagrado e não entrar em negociação permanente por tudo e por nada (de qualquer forma cá em casa isso ou acaba em birra ou ele ganha-nos pelo cansaço). 

Juntava também a ideia de que não se podem ganhar as batalhas todas de uma vez e há coisas que realmente precisam de tempo para acontecer. 

Apesar de ter tirado um enorme proveito da leitura deste livro deixo-vos alerta para a necessidade de manter um certo distanciamento de tudo o que é apresentado.

Em primeiro porque nem tudo é possível de adaptar à nossa realidade (por exemplo se não tenho uma rede de apoio e vivo numa cidade de milhões de habitantes não posso confiar nos outros para "vigiarem" o meu filho enquanto vai sozinho à padaria como acontece com um pequeno de 4 anos no livro). Igual reflexão para as ideias que vão claramente contra as convições que temos profundamente enraizadas em nós. Usando mais uma vez um exemplo do livro é-me impossível ignorar o facto de o meu filho me bater. Há primeira impeço-o de me bater e explico-lhe que fez mal se ele tenta continuar a fazer de mim saco de pancada coloco-o de castigo. Sim, ele está com raiva mas sim também existem comportamentos inaceitáveis e, apesar de ele perceber ou não a mensagem, a consequência tem de acontecer (opinião pessoal, evidentemente. Cada um gere da maneira que lhe parece mais apropriada para si e para os seus. Não é porque eu reajo de uma forma e outra pessoa de outra que nos estamos a "ofender mutuamente"). 

Outro ponto que me incomoda um bocadinho no livro é a ideia defendida pela autora, de forma consciente ou não, de que a educação ocidental está completamente errada. Ora acredito que há do bom e do mau em todo o lado e que o segredo é encontrar o equilíbrio e o que se encaixa na nossa personalidade enquanto educadores, na vida das nossas crianças e na nossa realidade pois é nela que vivemos.

Uma pequena experiência que fiz depois de terminar o livro foi colocar em prática alguns dos "métodos" apresentados. Curiosamente enquanto que, com a pequena Rosy, tudo funcionou cá em casa 2/3 das ideias não tiveram efeito nenhum. No entanto tenho de admitir que algumas funcionaram bem e que guardo dois ou três para mais tarde.

De todas as formas uma leitura interessante que me permitiu repensar algumas coisas, reforçar outras e dizer "isto para mim não serve" noutras também. 

Um grande beijinho e até ao próximo post!

 

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