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Crónicas da Cidade dos Leões

Um blog que adora partilhar dicas e reflexões sobre lifestyle, descobertas e organização. Sejam Bem Vindos!

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"Body Positivy" pelos Olhos de uma Profissional de Saúde

O "Body Positivity" é um movimento social que apareceu nos EUA em 1996 e que milita em favor da aceitação e da apreciação de todos os tipos de corpo humano.

A ideia principal, que advém dos movimentos de aceitação das pessoas obesas, é a de aumentar a confiança e a auto-estima colocadas em causa pelos "corpos perfeitos" que nos inundam os dias graças à publicidade, aos media, e mais tarde às redes sociais.

Este assunto, que me parece sempre pertinente e atual, foi-me inspirado pela "famosa" capa da revista Men's Health pelo seu vigésimo aniversário e por todas as reações que lhe sucederam.

Hoje venho falar-vos como mulher e como fisioterapeuta, porque uma coisa não vai sem a outra, sobre o assunto. 

Em primeiro lugar gostaria de começar com uma expressão bem popular e que parece difícil de entrar na nossa cabeça: "Nem tudo o que luz é ouro".

Se é verdade que as redes sociais parecem estar associadas a problemas de imagem e auto-estima também é verdade que o seu consumo aumenta de dia para dia.

Elas alimentam algo de que nós precisamos bastante: a nossa necessidade de pertença a um grupo agravada pela nossa incapacidade de julgar quando e como estamos a ser manipulados, especialmente numa altura em que a maioria dos contactos se fazem por via digital. 

Todos os dias contas e contas de instagram de todo o Mundo, de famosos e de anónimos, nos mostram com grandes sorrisos a sua definição de "fit" e "healthy".

Defendem as suas posições a favor de complementos alimentares proteicos e lutam contra o açúcar e os hidratos de carbono. Muitos deles com pouca ou nenhuma relevância científica para as suas afirmações, que não digo que não existam, mas que não se esforçam por apresentar. 

Como profissional de saúde, apesar de já estar fora da área do desporto e da músculo-esquelética há uns bons anos, tenho assistido com interesse ao crescente número de lesões mais ou menos graves  que aparecem em desportistas amadores, muitos deles motivados pelas redes sociais e pelos fenómenos de moda.

Arriscar-me-i a dizer que a carga excessiva é um dos principais fatores de risco e mantenho a posição que defendi neste post para o blog "O que não mata, engorda e transforma-te num maratonista", que escrevi a pedido do João Silva em 2019, de que um bom programa de treinos, acompanhamento profissional e uma alimentação saudável são as bases para uma boa prática desportiva.

Como fisioterapeuta defendo as recomendações da Organização Mundial de Saúde:  a importância de uma alimentação equilibrada e atividade física frequente. 

Sou ainda a favor, e isto é algo que digo frequentemente a quem me pede conselho, de que todas as nossas escolhas nos devem evitar frustração. Por ter feito e acompanhado pessoas próximas de mim em dietas para perder peso ou estabelecer objetivos relacionados com a prática desportiva sei que esta é uma boa razão para as abandonar. Por isso objetivos realistas e acessíveis são importantes até para melhorar a nossa própria sensação de autoconfiança e de bem estar. E devem fazer parte da nossa visão "Body Positivy".

Estaria a mentir se dissesse que não me inspiro em blogs ou canais com o rótulo "healthy". Uso-os como ferramenta pois acho que, bem utilizadas, as redes sociais podem até ser boas fontes de motivação.

A nós de conseguirmos moderar a forma como as utilizamos impedindo assim que nos tornemos escravos delas e aceitando que aquilo que lá está não é, a cem por cento, a vida real. 

E é para colmatar esta nossa grande falha que é a necessidade de nos revermos no outro, ou que ele se reveja em nós que movimentos como o "body positivy" podem trazer respostas.

As ciências do comportamento explicam que tendemos a imitar aquilo que os outros fazem, já que esta é a única forma de nos sentirmos parte integrante de um grupo, enquanto que o contrário nos levará a sentirmos-nos fora das normas e, em consequência, mal.

Este mesmo mecanismo é útil pois permite-nos "fazer como os grandes" quando somos crianças adaptando os nossos comportarmos em sociedade, aprendendo a comer de faca e garfo e a falar e por isso é algo inato, e inevitável.. No entanto temos controlo, enquanto adultos, sobre a forma como nos expomos a ela.  

Acho que o mais importante seria, e porque não através das redes sociais e dos cuidados de saúde primários, educar a população para a procura de satisfação com o seu estado de saúde (e consequentemente uma melhor relação com o seu corpo, aumento da auto-estima e por aí fora) e não o foco na balança, nos músculos definidos ou nas gramas de hidratos de carbono ingeridas ao longo do dia. 

O defeito deste movimento, como a maioria dos movimentos fundados nas redes sociais, é exatamente o de levar a extremismo. Se de um lado há os fits do outro lado há uma rebeldia defendendo a obesidade que tantas marcas de roupa, mais preocupadas com o business do que com a causa em si, apregoam. 

E é cada vez mais frequente ouvir pessoas a queixarem-se da "violência" médica, já que o Sr. Doutor se lembrou de fazer o seu trabalho e de as aconselhar a perder algum peso. Por mais bem educado e doce o profissional tenha sido.

Segundo a OMS a obesidade e o sedentarismo são responsáveis pela maioria dos casos de diabetes, hipertensão ou outros distúrbios cardiovasculares, entre outros. E é por isso que não podemos ser "nem oito nem oitenta" e que um equilíbrio é extremamente necessário. 

Por isso, e resumindo a minha opinião, que já vai longa e confusa, é de extrema importância educar a população para um estilo de vida saudável e equilibrado e que isso se faça com bases sólidas e não assente em fenómenos de moda.

É necessário, e nós profissionais de saúde temos o dever de estar na primeira linha desta luta, de compreender a pessoa de um ponto de vista biopsicossocial e ajudá-la a melhorar a imagem de si, motivando-a e apresentando razões válidas para procurar o equilíbrio, e não o extremo, e mantendo o foco na questão abordando as coisas sem culpas nem permitindo a frustração.

E, finalmente, é da responsabilidade de todos nós vigiar a nossa saúde mental e a daqueles que nos estão próximos, ajudando assim a melhorar a auto-estima, o amor próprio e procurando uma vida mais saudável em todos os sentidos.

E uma vida mais saudável é uma vida onde não vamos chorar de cada vez que subirmos para a balança seja por termos peso a mais ou a menos mas é sobretudo uma vida onde fazemos as pazes com o nosso corpo, as atividades ao ar livre e o prazer à mesa escolhendo as opções mais acertadas e (re)descobrindo sabores e cores das quais já nos esquecemos. Uma vida onde os nossos defeitos podem e devem servir-nos de fator de motivação e não o contrário. 

Por isso sim, sou uma adepta do body positivity e do direito a ser o que se é focando-nos na nossa saúde física e mental. E isso não pode ser um movimento de reivindicação mas sim algo que vem de dentro de nós mesmos e queé refletido pelo nosso próprio olhar e o contacto tão necessário daqueles que amamos e que são realmente importantes na nossa vida.

Porque não há nada mais bonito do que uma pessoa saudável, feliz e auto-confiante tenha ela umas gordurinhas a mais ou a menos. 

body positivy.jpgPhoto by Huha Inc. on Unsplash

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