A "obrigação" de Ser Feliz
Ou como a "ditadura da felicidade" nos está a deprimir...
Este post estava guardado na minha cabeça há já algum tempo e, confesso, ponderei bastante antes de o escrever. Quem finalmente me deu motivação para me lançar nesta reflexão foi o Gonçalo e este seu post.
O Gonçalo fala-nos desta espécie de necessidade suprema de "sucesso" que vivemos. Onde toda a gente apresenta a "receita mágica" para o atingir. O problema é que aparecem todos os dias centenas de "receitas" diferentes e nós ficamos completamente perdidos com tantas ideias.
Pegando neste tema, e para não repetir o assunto, decidi falar-vos de uma outra espécie de ditadura das redes sociais, dos livros que enchem as montras das livrarias e a que estamos expostos por parte dos influencers: A Felicidade.
Quantos posts, vídeos ou livros vos passam por debaixo dos olhos e que vos prometem a "receita" para a felicidade, como se esta fosse apenas dependente de nós e como se fosse possível ser feliz 365 dias por ano?! Eu já vi tantos e já li tantos que não conseguiria enumerá-los.
Apresentam-nos imensas ideias: "sê minimalista e serás feliz", "faz meditação e serás feliz" e por aí fora... até que, em determinada altura, nos sentimos completamente perdidos com tanta informação e, muitas vezes tão contraditória. Afinal o que raio é que nos faz mesmo felizes?!
Não quero dizer com isto que não existam métodos que nos ajudem a ter uma vida mais pacífica, mais calma, com menos altos e baixos, mais completa e consequentemente mais feliz. Aliás, se o fizesse estaria a contradizer o que eu própria escrevo neste blog. No entanto não posso deixar de me interrogar sobre a forma como esta busca incessante pela felicidade nos faz recusar o seu oposto: a tristeza.
Tudo na natureza é equilíbrio: yin e yang como o definem as culturas orientais ou positivo e negativo como o apresenta a ciência. Será que é inteligente da nossa parte desprezar com tanta força a tristeza quando ela faz parte integrante da nossa vida?
O que pretendo salientar com este discurso todo é que não há ninguém que seja feliz todo o dia, todos os dias.
Somos confrontados na nossa vida com momentos de perda, de cansaço, de fracasso e de deceção.
Vemos partir entes queridos, acompanhamos doenças em pessoas próximas, perdemos o emprego, rompe-mos com amigos ou com parceiros amorosos... e não é possível sentirmos-nos felizes perante tais provações. A não ser que não estejamos nada conectados ao Mundo real.
A única solução é mesmo o tempo, umas boas crises de choro, fechar-se em casa ou esconder a cabeça debaixo do cobertor até aceitar que esse acontecimento teve lugar. E só a aceitação nos poderá aliviar a tristeza.
Todos temos "dias negros" e é isso que nos permite apreciar os dias bons, aqueles em que os nossos olhos brilham.
Por isso não procurem a "receita mágica" da felicidade, ou do sucesso e da produtividade. Ela não existe e procurá-la de forma incessante só nos trará frustração e desespero. Aceita "os dias de chuva" porque eles são necessários, ou pelo menos inevitáveis.
Não corras de livro em livro, nem de blog em blog. Aprende a compreender-te e a escutar-te. E só nessa altura poderás escolher, entre tudo o que te é proposto, o que te faz bem ou não.
Porque é inevitável ter dias e fases da vida más, é inevitável ser-se infeliz uma vez por outra. Mas só por isso saberemos apreciar as coisas boas que esta vida têm para nos oferecer. E não há mal nenhum nisso...
Photo by Anthony Tran on Unsplash
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