Vimos tantas vezes o filme "Sozinho em Casa" que nos esquecemos de ouvir o que o pequeno Kévin diz realmente.
A tua família, tal como a minha, não é propriamente "fácil de aturar". Na verdade nenhuma família é.
Que todos nós possamos no entanto tentar reencontrar-se com a sua, compreendê-la e fazer-se compreender.
Porque os mais velhos estão convencidos de que têm razão, os pais de que sabem sempre o que é melhor para os filhos, os filhos insistem que os pais querem mandar neles... E nisto tudo estamos cada vez mais sozinhos e longe uns dos outros.
Que, como o Kévin, possamos ter a nossa família como prenda de natal. Porque só assim faz sentido.
O advento é um tempo de preparação por excelência. Uma preparação alegre e motivada.
Preparação rima também com arrumação. E é isso que hoje vos convido a fazer. Arruma algo que não faças todos os dias mas que tenhas a certeza que te tornará melhor: a tua mala, o teu escritório, o cacifo do trabalho (mea culpa)... É sempre difícil de começar mas o resultado será seguramente agradável.
O Tempo de Natal é um tempo onde, por excelência, estamos mais disponíveis a ajudar, a doar e a partilhar com os outros. Se é verdade que não é só no Natal que há quem precise, também não deixa de ser verdade que mais vale uma boa ação nesta época do que nenhuma o ano inteiro.
Hoje o objetivo do dia é "Doar, ajudar, partilhar". Pode ser uma doação em dinheiro se alguma ação de solidariedade se apresentar, pode ser ajudar uma pessoa com dificuldades a atravessar a estrada... Fica em aberto uma montanha de possibilidades e, quem sabe, vais levar esta vontade contigo para o ano inteiro.
Sophia de Mello Breyner e o seu "Cavaleiro da Dinamarca" fazem parte das minhas leituras natalícias por excelência.
É impossível para mim não emocionar com o Cavaleiro e o seu desejo profundo de passar o Natal em casa, correndo para isso perigos e recusando algumas oportunidades bastante prazerosas.
Hoje a frase que deixo em modo de reflexão é uma das que fecha este livro e deixo-vos aqui a questão: que "local" é este onde queremos com tanta força estar e que perigos estamos dispostos a enfrentar para lá chegar?
E hoje começamos a abrir as "caixinhas" do nosso Calendário do Advento. Serão 24 dias com 24 sugestões de desafios ou de frases com convite a reflexão que vos proponho.
E começo por um desafio bastante ambicioso: proponho-te que cries uma pequena lista das tuas forças e uma outra das tuas fraquezas na forma como te relacionas com as pessoas que te são mais próximas. Dessa pequena lista podes escolher uma força e uma fraqueza que te acompanharão ao longo do mês de Dezembro.
A ideia é colocares em prática uma estratégia que te permita colocar a tua força ao proveito de quem mais gostas (por exemplo se és um/a excelente doceira fazer doces para oferecer aos teus amigos) e uma estratégia para melhorar a tua fraqueza (por exemplo, no meu caso decidi trabalhar a paciência por isso vou criar uma estratégia que me permita ser mais paciente com aquela vizinha "chata" mas que não tem com quem falar).
A palavra Advento vem do latim "adventum" que significa vinda ou chegada e é vivida pelos cristãos como um tempo de preparação para o Natal.
Esta época do ano é ainda mais importante em tempos difíceis como os que vivemos entre guerras, recessão e tantos outros problemas. Todos os dias, mesmo na segurança das nossas casas, somos bombardeados com notícias cada uma pior que a outra.
Sou uma otimista e acredito sinceramente que é o amor que distribuímos, a começar por quem nos está mais próximo, que criará mais e mais amor numa corrente sem fim. E é esse amor que nos pode tornar fortes o suficiente para reagir, ajudar quem precisa e sair deste clima geral de "eu aponto o dedo aos problemas e os outros que os resolvam". E é esse para mim o grande desafio deste tempo.
Que limitemos os presentes mas multipliquemos por três o tempo dedicado à família. Cozinhemos, aproveitemos para passear no exterior e desfrutar das lindas paisagens de Inverno. Façamos a "caça" aos eventos culturais (que na sua maioria são gratuitos e existem em muitas cidades mesmo do interior) e deslumbremos-nos com as luzes de Natal, pequenos e grandes. Deixemos que a magia do natal nos deslumbre e fortaleçamos laços e distribuemos solidariedade ao longo desta época. Se é verdade que a solidariedade é esquecida o resto do ano também é verdade que mais vale fazer algo bom apenas no Natal do que nunca...
Que cheguemos à noite da consoada mais ricos do que mais importa. E que este Natal, que até pode ser mais pobre, será seguramente Feliz.