Um dos meus principais defeitos é o querer tudo para ontem. E se é verdade que faço o que posso para reduzir o seu impacto no meu dia a dia continuo a fazer sentir sobre mim e sobre os meus o peso da minha impaciência.
Estou, no entanto, convencida da importância do saber esperar nas nossas vidas (e do tanto que essa história de paciência está esquecida num canto da nossa memória).
Para mim alguém paciente é alguém que mantém os pés bem assentes na terra e não passa a vida "prego a fundo". Em contrapartida é alguém que sabe apreciar a chegada à meta.
É alguém que opta pelo que lhe faz bem seja qual for o tempo que isso lhe demore e que até sabe apreciar o caminho percorrido.
É também aquela pessoa que dá valor à relação humana, não se chateia à primeira, sabe respeitar o tempo do outro e acredita no melhor de quem está à sua volta. Quantas relações amorosas, familiares ou de amizade seriam bem mais simples se a paciência estivesse mais presente nas nossas vidas?
Esperar para vestir aquela roupa nova numa ocasião mesmo especial, não comprar algo por impulso ou ler um livro sem espreitar o fim são alguns dos desafios que nos podem levar a compreender a paciência e a sentir a realização que ela pode trazer à nossa vida.
Ser paciente, mostrou-me a vida adulta, é a mãe de todas as virtudes. E que mais simples seria a nossa vida com ela...
Decidi dar destaque durante o mês de Agosto à necessidade de desacelerar mas cá por casa foi um mês carregado de trabalho para nós. Apesar disso tentamos sempre manter a tranquilidade, nem sempre de forma perfeita, mas estamos bastante satisfeitos.
Com um único fim de semana disponível durante todo o mês (todos os outros de trabalho ora para um ora para outro) e o aniversário do marido ainda em rescaldo, decidimos visitar um Jardim Zoológico.
Por diversas razões consideramos que a educação do nosso filho deve passar por tempo no exterior e fazemos disso uma prioridade educativa. Dos nossos passeios quotidianos e semanais fazem parte parques, jardins, trilhos de caminhada ou outros espaços ao ar livre e onde o contato com a natureza seja possível.
Mas como o dia era de festa lá o levamos a ver outra coisa e a reação dele foi muito além das espectativas.
Vimos ao vivo e a cores diferentes espécies de macacos, chimpazés, tigres e por aí fora num espaço que tem como missão guardá-los temporariamente e enviá-los desde que possível em espaços maiores e/ou à região de origem foi estimulante e enriquecedor para todos nós.
Ao argumento que se ouve muitas vezes do "com essa idade ele depois nem se lembra do passeio" só tenho uma resposta: acredito genuinamente que as boas experiências são formadoras em qualquer idade e que o pior que pode acontecer é voltarmos lá daqui a uns anos e redescobrir novamente o Mundo pelos olhos dele. Pessoalmente vejo nisso uma sorte! Por isso, mesmo com um miúdo pequeno, acho que não devemos ter medo de o tirar de casa.
E por ai qual e quando foi o último programa que fizeram em família?
Se há coisa que me dá aquela sensação de "tempo que pára" é um bom livro. Daqueles que enche o coração e serena a alma. E é por isso que, no seguimento do último post, vos deixo algumas ideias de livros para saborear sem pressas enquanto aproveitamos esta última quinzena de Agosto.
- "A Sombra do Vento" de Carlos Ruiz Zafon:
Bastou-me ler as primeiras páginas para saber que este livro se transformaria num dos livros da minha vida. Uma escrita majestosa que nos transporta para uma Barcelona de outros tempos, mística e onde o amor vale tudo.
Se gostei bastante de toda a série "Cemitério dos Livros Esquecidos", a "Sombra do Vento" é sem dúvida o seu ex-libris.
- "O Dom Supremo" de Henry Drummond adaptado por Paulo Coelho:
Este pequeno livro que se lê "num instante" é a tradução e adaptação de Paulo Coelho de um sermão de um missionário do Século XIX.
Partindo do evangelho de São Paulo aos Coríntios, o texto levá-los a refletir sobre a importância do amor e lembra-nos os 9 "frutos do Espírito Santo" que o compõem: a paciência, a bondade, a generosidade, a humildade, a delicadeza, a entrega, a tolerância, a inocência e a sinceridade. Se é um livro "cristão" de base, não deixa de ser uma leitura muito rica para qualquer pessoa para quem o amor seja a coisa mais importante do Mundo.
É daqueles livros que leio de tempos a tempos, quando preciso de me lembrar que é o amor, mais do que a fé, a principal mensagem de Cristo.
"Harry Potter" de J.K. Rowling:
A coleção "Harry Potter" faz parte da secção "literatura juvenil" mas, enquanto adultos não me parece mal visitar (ou revisitar) o Castelo de Hogwarts e redescobrir as aventuras dos seus alunos e viver as suas descobertas sobre magia e sobre amizade, coragem e ousadia.
- "Equador" de Miguel Sousa Tavares:
Li este livro há muito tempo atrás mas guardo dele uma excelente memória. Um livro sobre a vida difícil nas colónias portuguesas no final da monarquia e a sua diferença flagrante com as noites de recepção da metrópole. Para mim O livro de Miguel Sousa Tavares a ler absolutamente (e não, ter visto a série não conta) e um daqueles que mais nos convida a viajar e a descobrir outras épocas e outras paragens.
- "Anjos e Demônios" de Dan Brown:
Para mim o melhor livro deste autor americano. O primeiro livro onde aparece o simbologista Robert Langdon, o mesmo de "O código Da Vinci". Um livro que nos lembra a cada momento que os bons nem sempre são bons, que os maus nem sempre são os maus e sobretudo que existem bons e maus em todo o lado.
E por aí, qual é o livro que vos transporta para outro lado?
Os nossos dias são pautados por uma velocidade desenfreada.
Esse ritmo é, de certa forma, imposto pela era em que vivemos. Mas será que nós próprios não aceleraramos ainda mais do que o necessário?
Será que não nos habituámos a correr o tempo todo de forma a que nos sentimos uns incapazes se não podermos dizer "não tenho um minuto para mim?".
Passo a contar-vos o episódio que deu origem a esta reflexão:
Ao telefone uma pessoa muito próxima queixa-se do ritmo. Entre o trabalho e uma atividade extra que faz para ajudar a suportar algumas despesas da família ainda acompanha os dois filhos em atividades desportivas e artisticas. Os miúdos estão ocupados quase todos os dias da semana e aos fins de semana tem jogos e apresentações. Em determinadas alturas do ano, algumas dessas atividades ainda se sobrepõe com outras mais esporádicas.
Diz-me ela: "Tenho mesmo de ver se acalmo. Eles aguentam mas eu tenho muita dificuldade em aguentar este ritmo".
Ouvi o que me disse até ao fim e respondi que se calhar os miúdos também precisam de ir mais devagar. Para além de que se já lhes enchemos a agenda antes dos 10 anos nunca saberão parar.
São indiscutiveis os benefícios tanto dos hobbies como das atividades desportivas seja para crianças ou para adultos. Mas estará correto deixarmos os miúdos gerirem agendas destas? E nós mesmo como é que, com uma agenda sempre tão cheia, poderemos ser surpreendidos pela própria vida e quem sabe descobrir novas ocupações e interesses?
De uma forma geral, crianças e adultos, quantas destas atividades é que são realmente fontes de prazer e de resiliência e quantas delas são feitas porque alguém disse "que era bom para", por puro hábito ou simplesmente porque existe o medo de ser menos do que os outros se não se fizer no mínimo tanto quanto eles? Não seria melhor fazer menos mas tirar mais proveito do que se faz, garantindo também tempo para descansar, brincar, arrumar coisas ou simplesmente respirar?
Aproveitemos o Verão para refletir a tudo isto. Se acharmos que o que temos nos corresponde tanto melhor. Senão ainda vamos a tempo de refletir na organização da rentrée e podemos fazê-lo enquanto passeamos pelo campo, contemplamos o mar ou bebemos um copo numa esplanada. Há maneiras piores de desacelerar, não?